Se há dez anos me dissessem que
estaria hoje aqui, diria que não, que seria impossível. Sempre achei que este não
seria o meu lugar, nada me dizia ou chamava aqui. Achava que seria outra
cidade, outras pessoas, se calhar até outra profissão.
Nestes dez anos, conheci de facto
outras cidades, outras pessoas, desenvolvi outras perspetivas da mesma profissão, mas acabei aqui, trazendo na bagagem tudo o que vi e vivi.
Há quem diga que a vida é feita
de ciclos, que estamos sempre na roda, umas vezes em sentido ascendente outras em sentido descendente. Consigo identificar todas essas fases da minha
vida.
Há seis anos estava claramente na
mó de baixo. Mas não em tudo. Tinha encontrado o amor, aquele à séria, um amor
paciente e que não desiste. Que não desistiu. Mas não tinha trabalho e muito
menos perspetivas de o vir a ter. A licenciatura já não servia para grande
coisa, mas já tinha alguma experiência que até achava que era interessante. Não
sabia o que podia fazer, por onde furar. Por isso furei tudo. Bati as lojas dos
centros comerciais e duas chamaram-me: uma para entrevista e outra para dobrar
t-shirts durante umas horas e no fim diziam-me. Desde sempre trabalhei em
part-time em lojas e em promoções, em diferentes setores, não iria ser difícil.
Claro que não disseram nada.
Candidatei-me a tudo o que podia
e não podia. Quis mudar de ramo e de rumo. Tinha perdido a esperança na profissão.
No dia em que tinha de confirmar a minha presença numa longa formação que iria fazer
a 100 km de casa, ligaram-me para ir trabalhar a quase 200km, dentro da área
mas numa coisa completamente diferente. E agora? Pouco depois, mais uma chamada
para uma entrevista para uma coisa que não sabia bem o que era, mas que acabou
por durar mais de cinco anos. Ele há coisas!
Agora recordo-me de como foi naquela
altura. As perspetivas são as mesmas, procuro mudar de ramo e de rumo. Realmente
há coisas que não mudam. Na semana em que me chamam para um trabalho, chamam-me
para aquela formação que queria mesmo fazer. A formação é a mesma de há seis
anos, o trabalho também…
Definitivamente, não vale a pena fugir
do caminho, ele apanha-nos sempre.